Tomou banho e pôs o perfume de que ela gostava. Escolheu a roupa criteriosamente: as calças que haviam comprado juntos, os sapatos que ela elogiara, o pullover que ela lhe oferecera.
Tinha feito a barba devagar e meticulosamente. Não queria que a cara picasse de forma alguma e sabia que ela tinha daquelas peles sensíveis que acusavam imediatamente o contacto. Já se haviam rido cumplicemente à conta da forma como o queixo e o nariz dela ficavam vermelhos depois de um par de beijos. Ele adorava como a sua falsa timidez a fazia corar, como ela lhe piscava o olho a meio de uma conversa, como se o beijasse levemente sem lhe tocar, da sua teatralidade, da forma como ela o tomava inteiro.
Os olhos dele brilhavam só de pensar na sua amada e sentia o seu peito palpitar com a perspectiva de estar com ela.
Ela era perfeita, pelo menos para ele. Riam-se das mesmas piadas, gostavam da mesma música, tinham sonhos parecidos.
Mas as coisas não iam bem.
De há uns tempos para cá discutiam mais e ele sentia-a mais distante. E quanto mais distante, mais a tentava desesperadamente agarrar, sem se aperceber que o amor é como a areia fina, se o tentarmos apertar muito, ele foge-nos por entre os dedos.
Ela cumprimentava-o mais friamente, recusava a sua mão, reagia bruscamente. Implicava com ele nos detalhes mais irrisórios, pelas decisões que tomava e pela forma como rapidamente voltava atrás com um qualquer comentário de insatisfação da sua parte.
Ela não estava satisfeita e ele estava perdido, perdido. Não sabia o que mais fazer para lhe agradar. Desesperava-se pensando nas surpresas que lhe fazer, nos presentes que lhe podia dar, nas palavras de amor para a amansar.
Preocupava-se tanto com o que fazia em relação a ela que começou a perder-se de vista, deixou de saber bem quem era e o que queria e começou a não ser mais do que um eco daquilo que Léon achava que ela queria num homem.
Pedia conselhos aos amigos.
E quanto mais se esforçava, pior era.
Mas a ideia de ser deixado, de estar sem ela era insuportável, porque era ela a sua razão de ser, o seu fiel da balança, a bússola por onde ele tomava as suas decisões, a outra metade da sua laranja.
Naquele dia, ela já o esperava zangada no café. Ele tinha-se atrasado por entre todos os seus preparos para lhe agradar. E ela odiava esperar.
Léon sentou-se diminuído na mesa do café que escolhera de propósito porque era famoso pelas tartes de maracujá, as favoritas da namorada.
Léon seria capaz de jurar que sentiu o seu coração literalmente partir nesse momento, sem se aperceber que, de facto, aquela era a melhor coisa que lhe poderia ter acontecido.
5 comentários:
Estas narrativas ameaçam tornar-se 'aditivas' :)
que bom! :) Obrigada! :)
gostei muito! :)
Keep on going! :)
Agora as personagens vão passar a ter uma regularidade semanal :)) *
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