Ele amava-a com um amor cego e dependente, embora percebesse que ela o estava a destruir. Queria afasta-se dela, libertar-se desta relação, mas ela estava como estivera sempre lá para ele: acessível, sem culpabilizações e sempre pronta para o levar a mais um voo sem lhe cobrar nada, aparentemente.
Era ela a presença contínua e unificadora da sua vida. Companheira dos maus momentos, elemento fundamental nos encontros com os amigos, quem o felicitava nos eventos a celebrar, quem lhe fazia companhia nos filmes em casa ou nos serões vazios, quem o acolhia nos momentos de solidão e quem o acompanhava nas suas aventuras.
Lembrava-se de a ter sempre ao seu lado, única amiga constante a quem permitia entrar no âmago sua intimidade, fazer parte de si inteiramente.
Queria-a, amava-a e ao mesmo tempo tinha-lhe raiva pelas coisas que lhe tomava em troca desta falsa relação em que ambos se consumiam por inteiro. Sabia que ela era uma vampira, que ia afastar todas as outras pessoas de si, que acabaria por o destruir, por deixá-lo só e na miséria se nada fizesse.
Mas ele amava-a! Amava-a!
Como pode uma pessoa escolher afastar-se assim de um amor? Por motivos racionais?!!
Não pode. Não pode. Não pode.
Tomou os comprimidos e disse um “até já” suspirado à bebida que o agarrava, viciante.
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