domingo, outubro 03, 2010

Teresinha

Teresinha Vilaverde era a menina bonita da cidade homónima.

Corpo fino, cabelo disciplinado, traços perfeitos e simétricos no rosto. Possuidora de uma elegância de bailarina e dotes culinários primorosos que conjugava com uma elevada inteligência uma admirável capacidade de se organizar e de levar a cabo os projectos em que se metia, com brio, brilho e animação.

A sua família era antiga e próspera na terra, conhecidos e respeitados por todos, de algum poder económico e de forte presença nos eventos socio-culturais locais e mesmo nos nacionais de menor impacto.

Sempre tinha sido a menina mais popular da sua turma, a querida dos professores e auxiliares de escola. Tinha ganho prémios de matemática, feito recitais de ballet, vestida de anjinho nas procissões, declamado poemas de turma no dia da mãe, colaborado com arte e perícia nas festas da associação recreativa local.

Os seus pretendentes locais eram inúmeros e Teresinha fazia suspirar um amplo leque de cohabitantes da pequena cidade, sendo aparentemente inacessível a qualquer deles.

No seu refúgio clandestino, em Braga, Teresinha gostava de ficar no silêncio com Albano, nos momentos de cumplicidade sem mais comunicação além de estar ali. E era nesses momentos que era mais terna, onde dizia mais sem falar, porque a ausência de palavras, a satisfação por estar naquele sítio, no momento em pura fruição fazia-a querer dar-lhe tudo quanto tinha, como se fosse a única forma de agradecer a sorte de estarem ambos ali, ambos felizes, ambos em paz a fazer as suas coisas. Sem expectativas nem fasquias. Companheiros de cama e de livros, de café e de cigarros, de músicas e de debate.

Recordava-se bem dos homens que a tentavam impressionar com a sua inteligência ou intimidá-la com a sua altivez, todos sem sucesso, todos falhados nessa tentativa vã.

Lembrava-se de não querer ninguém, de não permitir que ninguém tocasse a sua vida perfeita. Até aparecer Albano.

Albano compreendera sem saber que Teresinha não era de se impressionar, era de se comer às dentadas. E fora assim que o forasteiro, sem se dar conta de como nem porquê conquistara imediatamente a menina perfeita e inatingível da terra.



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