O coração é esse músculo desobediente a quem não importa o que o lhe mandam fazer, é o rebelde a quem não se pode mandar bater baixinho, estar sossegado. Porque tem a mania que é independente e faz o que quer.
E como não é racional, faz muitas asneiras. e às vezes faz as coisas grandiosas que só os audazes almejam.
Rodolfo chegou sem se anunciar porque vivia como quem sabe que a vida é uma queda livre, mas era capaz de apreciar a liberdade que isso lhe proporcionava, de sentir o vento na cara, apreciar a paisagem e perceber o próprio ritmo do seu coração no processo de ver o chão aproximar-se.
E por isso não tinha vergonha de pensar com o coração e sentir com o cérebro.
Conheceu Salomé muito antes de a amar e amou-a quando já não tinha tempo para o fazer, roubando-o a todos os cantinhos de coisas que podia e não devia.
Porque se o tempo corria em linha reta, rumo ao desconhecido inevitável, Rodolfo optava por viver em contra-relógio, numa entrega total a e em cada momento, bebendo a vida como se fosse um peixe e a respirasse, sofregamente, até a esgotar, na esperança de num último momento descobrir um novo tanque de H2O. de no último momento sentir um arnês segurá-lo, evitando a colisão frontal com o solo. Mesmo se à partida parecia que esta seria a sua última reserva. Mesmo se não se lembrava de estar a fazer bungee jumping em vez de queda livre.
Porque Rodolfo sabia que, independentemente das probabilidades, uma história não acaba até ao seu desfecho e que a Vida dá mais voltas que a Terra.
Sem comentários:
Enviar um comentário