terça-feira, maio 17, 2011

Martina

Martina aprendeu com a vida que não se deixa fugiu amor nenhum. Aprendeu às suas próprias custas que o amor, quando se nega, tarda em voltar. E às vezes tarda mesmo muito.

E por isso quando Martina conheceu Gilberto atirou-se de cabeça, como vinha aprendendo há vários anos.

Martina aprendera à custa dos seus erros e das suas próprias protecções emocionais que nada há que seja pior que o arrependimento e o vazio depois do que poderia ter feito "se" e apenas "se".

E decidira desde há muito que não voltaria a ser assaltada por esses pensamentos.

E Gilberto cozinhou-a como a uma rã. Foi aquecendo a água da panela enquanto ela estava viva lá dentro, para tornar a sua carne mais tenra quando finalmente a consumisse.

Martina foi mudando, cedendo até já não poder mais. Desta vez aprendeu que afinal não se pode dar desmesuradamente, e que a vida é assim, uma madrasta que passa anos a ensinar uma coisa, apenas para depois ensinar o contrário.

E que Gilberto mentia, enganava e manipulava Martina, sob o manto de uma transparência e uma brutalidade infantil e pura.

E que toda a gente tinha pena dela, da forma como se deixava cozinhar, saindo e entrando a panela que não parava de aquecer, cozendo mais um bocadinho de cada vez.

Só que a mulher-rã é uma espécie em vias de extinção. E Martina, ao invés de ficar mais macia, à medida que a panela aquecia, ficava mais dura, mais amarga, mais imprópria para consumo. Até que, envenenada pela própria água em que a escaldavam, saltou para fora.

E no fim saiu da panela.

escaldada.

2 comentários:

Lia Silva disse...

Minha contadora de histórias :)

Helena Martins disse...

:))) *!