Quis ser rápida com a entrega do dinheiro na bomba de gasolina e atirou a moeda e a nota que faziam a conta certa do valor em dívida.
E numa fracção de segundos, reparou como os objectos lhe saiam da mão de forma bruta, e sem consideração pela outra pessoa, quase num sinal de desprezo.
E parou.
Ela não conhecia a outra pessoa. Não tinha nada contra o senhor da caixa registadora.
Sentiu aversão pelo seu próprio gesto, pediu desculpa por ter atirado as coisas e deu o seu melhor sorriso.
Foi para ao carro perturbada. Profundamente inquietada por não reconhecer como seu um gesto impensado, questionou-se se estava a tornar numa dessas pessoas frias e frustradas.
Colocou o cinto de segurança e acendeu as luzes. Seguiu devagar para casa, tendo especial cuidado com os outros condutores e peões.
E pelo caminho perguntou-se o que é que se passava consigo que ultimamente se sentia menos ela mesma.
O semáforo ficou vermelho e ela parou, sem o ignorar como de costume. Tinha a mente vazia de pensamentos, mas sentia-se apreensiva e preocupada.
Verde. Seguiu o caminho.
E no momento em que deu o pisca para a sua rua, fez-se luz em si.
Quando alguém era especialmente mauzinho para ela, dizia para si mesma que a pessoa devia estar infeliz no amor, que a vida íntima não lhe devia andar a correr bem. E fez a relação consigo mesma. No espaço de tempo entre descer a sua rua e estacionar o carro, compreendeu que as atitudes que menos gostava em si ultimamente se deviam à forma como a sua relação com Jorge não estava a correr. E pensou em si como pensava nas tais pessoas "mazinhas" e "infelizes", que não eram más em si mesmas, tinham era falta de coragem de procurar o que queriam, de seguir com as suas vidas sem aquele cobertor de segurança, ainda que se tratasse de um cobertor fino e roto.
Puxou o travão de mão e disse-se que se havia coisa que não era, era cobarde.
Desligou o carro e as luzes.
Pausou brevemente antes de tirar o cinto de segurança e sair do carro.
Saiu, bateu com a porta, trancou o carro e decidiu que tinha de acabar a sua relação com Jorge naquele mesmo dia.
Pegou na chave de casa e ao rodá-la na fechadura, sentiu-se feliz por se ter re-encontrado.
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