sexta-feira, dezembro 14, 2012

Nunca = Para sempre - 1


Rui acabou com Maria de uma forma que não se faz e partiu o seu coração em mais bocados do que átomos.

No princípio, as saudades assaltavam-na a toda a hora, em cada sístole cardíaca. Desregulavam o bater do seu coração partido, que insistia em doer, apesar dos argumentos lógicos e muito acertados que o seu cérebro lhe dava para não ter pena: ele não a merecia, não a tratava como devia, era um irresponsável, deitava-a a baixo, fazia sentir-se uma insignificante, não a elogiava, dizia que ela cantava mal e atirava-se a outras mulheres à sua frente.

Todas as razões e mais algumas para agradecer aos céus a benção de a relação não ter durado muito e ter definitivamente acabado. e no entanto as saudades colavam-se à sua pele, a meio do trânsito, do chuveiro, do sono, dos sonhos. do trabalho. dos almoços de família. dos fins de tarde. dos princípios de madrugada sem dormir.

Com o passar do tempo, aos poucos, as saudades foram desistindo de Maria, tornando a sua respiração mais fácil. Foram-na deixando nas horas todas, acordada e a dormir. Foram-se esquecendo de a lembrar dos pequenos gestos de Rui que ela tanto gostava, da maneira como ele procurava os seus pés durante a noite, como a abraçava, da maneira como lhe dava a mão, como conversavam cumplicemente até de manhã, sem verem as horas passar, da forma como eram iguais nos detalhes mais insignificantes e na sua estranha forma de funcionar. como se complementavam e se melhoravam mutuamente.

Depois, as saudades começaram a dar-lhe umas folgas mais regulares, provavelmente por terem também elas outros compromissos, que entretanto assumiam. Ela foi reconstruindo os pedaços do seu coração e começando também a ver como era um falso dourado o das recordações, e com o quebrar do feitiço da paixão, começou a ver os podres da relação e as diferentes nuances da forma pouco digna como ele a tratara.

Desapaixonou-se por completo passado uns meses, mas nunca o esqueceu, porque há coisas boas e más de que é importante lembrarmo-nos.

E se Maria não guardou rancor a Rui, optou por não fazer também tábua rasa de tudo o que tinha acontecido entre ambos.

Um dia, reencontraram-se. Rui, que havia decidido sozinho e de forma bastante cobarde que a relação devia terminar, disse-lhe senhor de si e plenamente convencido de que lhe estava a dar uma boa notícia, que um dia, se a vida mudasse e se voltasse a proporcionar, as portas estavam abertas para reatar a relação com ela. Que a relação tinha sido excelente, que não tinha nada a apontar.

Maria olhou-o nos olhos e pôde dizer com honesta sinceridade que isso nunca iria acontecer.


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