quarta-feira, novembro 19, 2014

Os postais da campanha

Ao longo da campanha de crowdfunding comprometi-me a fazer uma coleção de 7 postais e o público decidiu que seriam postais sob o tema das 7 cores do arco-íris. Como se trata de um projeto literário, decidi que acompanhando as imagens devem ir citações literárias.



Para já tenho a citação para a cor amarela (do Principezinho, um extrato do diálogo da raposa, sobre como os campos de trigo a farão lembrar o cabelo dourado do Principezinho)

e laranja (do grande Ary dos Santos, o início da canção "Cavalo à Solta" - é "Minha laranja amarga e doce, meu poema)


Faltam-me citações para:


  • vermelho (Já o sonho começa... Tudo vermelho em flor... - Camilo Pssanha, Clepsidra)
  • verde (só me ocorre o "verdes são os campos" do Camões)
  • azul 
    • (ocorre-me "o céu azul não era dessa cor antigamente" da Florbela Espanca);
    • do Óscar e a Senhora Cor de Rosa, a eplicação daquilo que o Óscar vê na Peggy Blue
  • violeta
  • indigo
    • “Hold on to your divine blush, your innate rosy magic, or end up brown. Once you're brown, you'll find out you're blue. As blue as indigo. And you know what that means. Indigo. Indigoing. Indigone.” 
      ― Tom RobbinsJitterbug Perfume
Têm ideias?

sábado, novembro 01, 2014

Sara

Há feridas que nunca saram. Choros que nunca param. Dores que nunca cessam, simplesmente criam habituação.

Perder um filho não é uma coisa natural, é o que mais violentamente vai contra a nossa natureza: por algum acaso temos uma palavra para quem perde os pais, mas a própria Língua se recusa a legitimar a violência atroz que é perdermos o ser que nos veio das entranhas.

Luis e Mariana choraram a perda da filha pequena e toda a gente lhes disse que eram novos, que haviam de ter outros filhos, que com o tempo a dor havia de diminuir.

Mentiram.

Apesar de terem tido mais dois filhos, Luis e Mariana nunca deixaram de sentir a falta da mana mais velha dos outros petizes, nunca a substituiram e nunca se esqueceram dela por um momento que fosse. Sara nunca deixou de lhes fazer falta; a sua falta só se tornou mais visível com o passar do tempo.

É um processo inexplicável e muito pouco aceite socialmente.

É suposto que as pessoas chorem muito quando lhes morre alguém querido e que depois com o passar do tempo se acostumem à sua ausência. De vez em quando podem recordar-se de algo mais específico, mas não é particularmente bem visto que as pessoas se delonguem demasiado no seu luto.

Mas para Luis e Mariana, cuja ferida nunca haveria de fechar, esta noção era simplesmente incompreensível.

E portanto, toda a vida os seus outros filhos ouviriam falar da mana mais velha, haveriam de ver-lhe as fotografias, haveriam de dizer que na família eram 5, eles os 4 mais a mana que era uma estrelinha.

E assim a vida prosseguiu, num destes paradigmas de família moderna.

Se há famílias monoparentais, casais do mesmo género, etc., a sua família haveria de ser uma destas que fogem à regra.

E como tal, mais do que eles os 4, a sua família havia sempre de contar com mais um, por muito que fisicamente não estivesse e não entrasse para as contas do IRS.

Sara morreu, mas não nos seus corações e nunca na sua família.