Tem esperança e não apenas entusiasmo, Alexandra.
Lembra-te que te queremos bem.
Lembra-te sempre de quem és.
Lembra-e que nunca estarás sozinha, que - mesmo com um oceano no meio - estaremos sempre aqui para ti.
Lembra-te de deixar as expectativas em casa, guardadas num armário
qualquer; e fecha-as à chave, porque elas são como as formigas -
esgueiram-se por qualquer frincha; como os cães: cheiram-te à
distância e vão a correr ter contigo; e como os elefantes: fazem tudo o
resto parecer pequeno, insignificante e insuficiente.
Lembra-te de telefonares todos os dias aos teus pais, que sabes como eles são saudosos. Ou não ligues mas manda um email. e não te esqueças de os mimares sempre.
Lembra-te do agasalho. Que dizem que lá é quente, mas à noite arrefece e um casaquinho não te pesa.
Lembra-te de comeres bem. Cuida de ti. As vitaminas são importantes e sabes bem que lá os hospitais não são como cá.
Lembra-te que podes sempre voltar, sempre que queiras.
O teu futuro é lá, mas o teu presente será sempre aqui, porque te havemos sempre de querer dar tudo o que pudermos, o que tivermos.
Lembra-te de nós e nunca te esqueças como gostamos de ti.
Sempre soubemos que ias partir, mas nunca quisemos acreditar. Sabiamos que toda a gente tem o seu caminho, mas não queriamos que o teu fosse longe daqui.
Sempre quisemos acreditar que o sonho de um Brasil fosse um idílio de férias e nunca pensamos que o nosso país te empurraria para lá.
Vamos ter saudades e preferiamos que não fosses. mas parece que é esse o teu destino. Melhor ainda, sabes?, penso para mim que temos todos um caminho a percorrer, um destino que temos que cumprir.
E se há quem tenha um destino, parece que depois há quem vá mais longe e tenha uma predesti-Nação.
Um catálogo de personagens imaginárias para ficç(aç)ão. um kit de ideias. para pensar, escrever ou sonhar.
sábado, outubro 20, 2012
sexta-feira, outubro 12, 2012
Isabel
Isabel era um outlier.
Isabel tinha uma cara redonda e cabelo loiro cortado curto de forma assimétrica. Vestia roupas confortáveis e originais, de cores fora do vulgar e acessórios de design.
Os sapatos eram rasos, a voz era quente e as palavras eram informais. Na Universidade, gostava de se sentar em cima das mesas quando dava aulas. E não o fazia de forma expectável.
De inteligência aguçada e espírito crítico bem desperto, tinha um gosto especial pelo inconvencional, pelo desafiar de regras, pelo diferente.
Sentava-se na mesa e punha uma perna atrás da cabeça enquanto explicava conceitos fundamentais e com algum nível de complexidade, como se fossem simples. Depois cruzava as pernas (sempre em cima da mesa) e dava exemplos sobre a possível relação dos alunos com os namorados, de quando saem à noite para beber uns copos, de quando correm e ficam muito cansados.
Os grandes teoremas aplicados a coisas simples, os corolários exemplificados.
E dizia: "experimentem".
E mandava experimentar logo ali, na hora. e depois fazia relatar o que tinham feito, comentar e pensar em alternativas e nos porquês das suas opções.
Tinha um ar de miúda e os alunos viam-na com frequência à noite, nas mesmas noitadas que eles, de copo na mão e cigarro de enrolar.
E ela não fazia de conta que não os via. Cumprimentava-os à distância, dizia-lhes adeus. E depois comentava nas aulas que os tinha visto se se lembrasse disso para exemplificar alguma coisa ou só para se meter com eles.
Os alunos ficavam perplexos a princípio. A senhora professora que não tinha ar de quem se ia aposentar em breve que dava exemplos tão pouco formais.
Depois acostumavam-se e recordavam com carinho os dias em que estavam poucos alunos e bom tempo e a aula era no jardim.
Isabel divertia-se com as aulas. Mas não deixava de ser um outlier. e à medida que ganhava confiança a sua não conformidade acentuava-se. E à medida que a não conformidade se acentuava, transformava-se em desobediência.
E um dia ela disse que estava farta. Que não queria mais. Que gostava demasiado de ser feliz para vender o seu tempo encaixotado nas regras que lhe mandavam, que um professor a sério não se senta em cima das mesas, não fala de substâncias psicotrópicas, não tem nada que perguntar aos alunos exemplos das suas vidas pessoais, que as aulas são para se dar na sala.
Então saiu da Universidade e foi ser feliz a dar consultas de Psicologia. No seu lugar colocaram outra professora nova e loira. Mas esta nunca se sentava em cima da mesa, nunca saia da sala e nunca dava exemplos da vida normal. Fazia testes em que os alunos tinham de dizer o que estava no manual, aparecia às reuniões todas, não dizia o que pensava e tratava os alunos como subordinados.
E ainda hoje lá está.
Isabel era claramente um outlier, um elemento da amálgama populacional que não reage como a maioria dos sujeitos. Diferente, fora dos parâmetros habituais. E na vida, como no tratamento de dados, os outliers só interessam quando a metodologia é qualitativa; na metodologia quantitativa, eliminam-se que é para depois não haver surpresas nos resultados.
Isabel tinha uma cara redonda e cabelo loiro cortado curto de forma assimétrica. Vestia roupas confortáveis e originais, de cores fora do vulgar e acessórios de design.
Os sapatos eram rasos, a voz era quente e as palavras eram informais. Na Universidade, gostava de se sentar em cima das mesas quando dava aulas. E não o fazia de forma expectável.
De inteligência aguçada e espírito crítico bem desperto, tinha um gosto especial pelo inconvencional, pelo desafiar de regras, pelo diferente.
Sentava-se na mesa e punha uma perna atrás da cabeça enquanto explicava conceitos fundamentais e com algum nível de complexidade, como se fossem simples. Depois cruzava as pernas (sempre em cima da mesa) e dava exemplos sobre a possível relação dos alunos com os namorados, de quando saem à noite para beber uns copos, de quando correm e ficam muito cansados.
Os grandes teoremas aplicados a coisas simples, os corolários exemplificados.
E dizia: "experimentem".
E mandava experimentar logo ali, na hora. e depois fazia relatar o que tinham feito, comentar e pensar em alternativas e nos porquês das suas opções.
Tinha um ar de miúda e os alunos viam-na com frequência à noite, nas mesmas noitadas que eles, de copo na mão e cigarro de enrolar.
E ela não fazia de conta que não os via. Cumprimentava-os à distância, dizia-lhes adeus. E depois comentava nas aulas que os tinha visto se se lembrasse disso para exemplificar alguma coisa ou só para se meter com eles.
Os alunos ficavam perplexos a princípio. A senhora professora que não tinha ar de quem se ia aposentar em breve que dava exemplos tão pouco formais.
Depois acostumavam-se e recordavam com carinho os dias em que estavam poucos alunos e bom tempo e a aula era no jardim.
Isabel divertia-se com as aulas. Mas não deixava de ser um outlier. e à medida que ganhava confiança a sua não conformidade acentuava-se. E à medida que a não conformidade se acentuava, transformava-se em desobediência.
E um dia ela disse que estava farta. Que não queria mais. Que gostava demasiado de ser feliz para vender o seu tempo encaixotado nas regras que lhe mandavam, que um professor a sério não se senta em cima das mesas, não fala de substâncias psicotrópicas, não tem nada que perguntar aos alunos exemplos das suas vidas pessoais, que as aulas são para se dar na sala.
Então saiu da Universidade e foi ser feliz a dar consultas de Psicologia. No seu lugar colocaram outra professora nova e loira. Mas esta nunca se sentava em cima da mesa, nunca saia da sala e nunca dava exemplos da vida normal. Fazia testes em que os alunos tinham de dizer o que estava no manual, aparecia às reuniões todas, não dizia o que pensava e tratava os alunos como subordinados.
E ainda hoje lá está.
Isabel era claramente um outlier, um elemento da amálgama populacional que não reage como a maioria dos sujeitos. Diferente, fora dos parâmetros habituais. E na vida, como no tratamento de dados, os outliers só interessam quando a metodologia é qualitativa; na metodologia quantitativa, eliminam-se que é para depois não haver surpresas nos resultados.
Subscrever:
Mensagens (Atom)