Lembrava-se de ser uma noiva feliz, cheia de sonhos e esperanças, apaixonadíssima e feliz, não se pode descrever de outra forma, arrebatada de um sentimento absoluto, inteiro, pleno.
Camila era o centro da animação, sempre. Quem visse a sua energia inefável, o seu bom humor, a sua capacidade organizativa em prol dos outros, sempre em prol dos outros, não imaginaria quão opostas eram as águas profundas que lhe corriam na alma.
Quando Amália conheceu David, Camila foi conspiradora-mor da sua felicidade, arranjando pretextos perfeitos para Amália sair de casa, servindo de alibi para as suas escapadas com o namorado secreto.
Quando decidiram casar, Camila mostrou mais uma vez o seu valor como amiga. Ajudou na organização sem ser intrometida, mobilizou os amigos de ambos em surpresas infidáveis, animou como sempre um pouco mais a vida de todos.
Mesmo tratando-se de um casamento na igreja do Bonfim, como o seu fora. Mesmo segurando e ajeitando o véu da noiva à entrada da igreja num gesto parecido com o que tinham feito por si.
Mesmo perante um amor tão puro e promissor como o seu havia sido.
Marco e Camila namoraram 10 anos e ele estava já diagnosticado com cancro quando casaram. Camila amava-o e nada seria diferente. O amor tudo conquista e haveria de resgatar também a vida de Marco.
Continuaram a construção da sua casa e começaram os tratamentos, escrupulosamente seguindo todos os tortuosos ditames médicos. Camila deixou o seu emprego, a sua vida e a sua existência para o amparar a ele.
E ele lutou o mais que pode, numa luta perdida à partida. E deixou a Camila um legado bem maior do que a casa que o seguro de vida pagou; deixou-lhe a certeza de que ela fez tudo o que podia, que ele a amava mais que tudo o resto e que ela era mais forte do que supunha.
E que a vida é preciosa e se tem de viver momento a momento.
O vestido que levou para o casamento da sua amiga era preto e elegante. “Com o meu vestido preto, eu nunca me comprometo”, dizia num tom jocoso e coquete, mudando logo de assunto.
Porque se de alguma maneira queria estar de luto pelo seu amor, por tudo o que tivera e perdera, pelos momentos que vivera naquela mesma igreja 3 anos antes, os mesmos olhares, as mesmas sensações, o mesmo nervosismo e a mesma alegria profunda de quem se entrega sem reservas a outro ser humano para o melhor e para o pior, na saúde e na doença, não suportava que sentissem pena dela ou que isso fosse motivo de conversa e jamais roubaria o centro de atenções da sua grande amiga, a noiva feliz.